terça-feira, 2 de outubro de 2007

SE AS MINHAS MÃOS PUDESSEM DESFOLHAR

Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!

Federico García Lorca

EL MUNDO CABE EN UNA CANCIÓN

Las rosas del primer amor,
mis viejos, la primera canción
el primer beso, el primer dolor
el hombre que no quise ser,
el August Foster desde donde zarpé
hacia países lejanos
y algo ya estaba allí
casi descubriéndonos.

Ya respiraba a mi lado
y esto fue lo que aprendí
y hoy vengo a decírtelo
el mundo cabe en una canción.

Desafinaba Tom
mientras caía el sol
en Ipanema dorada
la máquina de hacer pájaros invisibles
en el '76 la sangre se derramaba
y Pichuco al oído me decía:
”Pibe no consigo sacarme el tango del corazón”

Mercedes es la voz, y Frankie no te preocupes
que el mundo cabe en una canción

Todas las músicas me hablan
todas las cosas se conectan en mi corazón
ah! te entiendo bien
sabés que te entiendo bien

Y aunque todo sea una farsa
yo se que el mundo cabe entero en una canción
pienso en la primera vez que te dije que te amé
ah, que hermosa sensación y créelo de una vez,
el mundo cabe en una canción.

Fito Paez

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A ESTROFE DO AMOR PERDIDO

I

O amor que não lhe disse
está me entristecendo agora.
Não saiu dos meus lábios e passou ao seu lado
como uma sombra suave!

Eu não o soube olhar,
não o soube sentir,
minha boca tampouco
conseguiu lho dizer...

Perdeu-se como um canto que se fina nos lábios,
expirou como um barco que se perde no mar.

Passou como uma sombra... Não o soube sentir...
Não o soube sentir... sequer o soube olhar...

II

Silencioso amor. Ou sino
sem metal.
Silêncio. Agora estou triste.
Tarde. Lembrança. Silêncio.
Solidão.
Amor... se eu o tivesse dito
naquele entardecer...
Mas para que o calaria?...
Para quê?!

Pablo Neruda

AMAR


Alguém já disse o verso que eu tinha de dizer-te
e noutro coração se apertou meu desejo,
a vida de outros homens na minha revive
como um licor antigo sobre outros lábios novos.

Amo e Amor é este que outros em si tiveram
bordado em ouros duros, tatuado em sulcos firmes,
Amor que é sempre o mesmo como o céu sempre o mesmo
o das auroras rubras e das tardes cinzentas.

A lembrança que escondo, a palavra que disse
vinham até minh' alma do fundo do tempo
e ao lançar-lhes minhas redes ásperas, terríveis,
quedaram encantadas em palavras e lembrança.

É que eu esmago as uvas de um oculto vinhedo.
Doces são teus racimos, vinhateiro invisível!
E no profundo céu da meia-noite eu vejo
escritas as palavras que não podem ser ditas.

Amor, estou alegre porque os outros te tiveram,
estou alegre, Amor, e ébrio, e alegre e triste.
Dormem por ti em minh' alma tantos sonhos remotos
que em muitas almas novas voltarão a dormir!

Pablo Neruda