terça-feira, 27 de setembro de 2011

Intenso


Intenso é o seu olhar, que realmente busca saber quem eu sou e não o que aparento ser.

Intenso é o seu abraço, que me acalma, me protege e me faz esquecer o mundo que me aflige.

Intenso é o seu toque, que busca carinho e me alegra.

Intensa são suas palavras, que são como fogo e alegram meu coração.

Intenso será o caminho a seguir se ousares ir comigo.

Que seja intensa sua resposta se me disseres sim.

By Rê Bergamin

(Thinking about my Dream)

A Felicidade


A felicidade vinha passando pela calçada do outro lado da rua. Eu a vi acenar pra mim, sorrindo.

Eu gosto da felicidade. Fazia muito tempo que não a via assim, pessoalmente. Então claro que ia deixar meus afazeres diários para cumprimentá-la, saber como ela estava e quem sabe embalar uma conversa que pudesse fazer ter o contato dela novamente. Afinal, quem não gostaria de ter a Felicidade ao seu lado, pelo resto dos seus dias? Pareço um sonhador? Que só de rever a felicidade já está pensando em namorar, casar com ela e passar o resto da vida ao lado dela? Ah, vocês não conhecem a felicidade, então...

Olhando-a caminhar na minha direção, ainda esboçando o mesmo sorriso, ela parecia diferente, contudo a mesma. Talvez eu a encare de modo diferente que eu via naqueles dias de adolescência. Talvez seja eu, ou ela quem mudou. Talvez eu tenha amadurecido e notado que os olhos dela sobre mim seriam suficientes, como na minha adolescência, quando eu a tinha sempre comigo, mas nunca dei o devido valor a todo o carinho que me prestava. E não era por maldade! Não era de propósito. Acho apenas que tê-la ao meu lado cegava-me das tristezas que poderia ter, e então as poucas coisas que me atormentavam eram pra mim algo que me afastava dela, talvez uma desfeita, mesmo. É. Acho que isso aconteceu com muita gente.

Com o tempo, ela foi se afastando. E com esse mesmo tempo, eu fui refletindo quem ela era de fato, e a importância dela pra mim. Notei que tinha perdido-a. Ah!Esqueci de falar que durante todo esse tempo com ela eu não sabia seu nome. Parece mentira, não é? Mas a Felicidade é assim... Ela só nos conta seu nome depois que se afasta. Quando seu sorriso é apenas um sussurro no silêncio, que leva você a vagar pela estrada procurando o toque de sua pele, e não o arrepio que o vento trazendo seu sussurro carrega. Pelo menos pra quem sempre a teve junto de si...

Pra quem não a teve, creio que seja diferente. Quando ela aparece na sua vida, deve ser algo fora de série. Embora a surpresa talvez seja tão grande que desvie a pessoa dela rapidamente. Por não estar acostumada, talvez. Por querer exigir demais dela, outra hipótese. Acho que, embora os dois casos sejam os mais comuns, sejam também tristes.

Mas enfim, esqueçamos as divagações um pouco. O importante era o agora. O passado já era. O importante era aquela rua, movimentada. A felicidade vindo em minha direção, as outras pessoas sem olhar para ela direito. Ocupadas com suas carteiras, olhando em outras direções. Andando com pessoas que pareciam com a Felicidade, mas não eram. Acho que a maioria delas acreditava de fato que eram ela...A outra metade deveria saber que não era, mas fica por comodismo. A Felicidade, por mais incrível que ela seja, não é fácil de se conquistar, afinal...Havia mais pessoas na rua. Aquelas que estavam fechadas dentro dos carros. As que estavam de olhos fechados. As que se vestiam como outras pessoas, falavam como outras pessoas. Poderia listar inúmeras outras. O importante era que nenhuma delas estava olhando para a Felicidade. Não, eu não estava distraído! Minha atenção era principalmente para a Felicidade. Mas não posso me culpar pelo meu ciúme. Pois poderiam conquistar a Felicidade na minha frente, qualquer uma daquelas pessoas! Bastava soltar a mão da sua acompanhante, abrir os olhos, sair de dentro dos seus carros, olhar para o outro lado. Não deveria ser dificil.

Eu a via se aproximando. Parei ante a faixa de pedestes. Ela estava do outro lado da rua. Ainda me olhava nos olhos. Os carros corriam rapidamente pela rua. Se interpunham, e me faziam esperar. Cada segundo contava um ano, e cada ano, eu me angustiava mais, ansioso por segurar a mão dela novamente. Embora eu saiba que aquele seria apenas um primeiro encontro casual depois do último encontro, de longo tempo atrás.

Um adendo enquanto eu espero o sinal para os pedestres abrir: Notaram que não descrevi a Felicidade? Não o fiz porque não é importante.

Os segundos e anos de espera se esgotaram. A luz verde acendeu-se para mim. E pusemo-nos a andar, um na direção do outro. Um singelo “oi” no meio da avenida, e uma parada desconcertada minha, um cruzar e acompanhar de olhos enquanto os corpos giram e se afastam. Cada qual no seu caminho, ela sem parar, o perfume espalhado no ar, forte e enfraquecendo, enquanto eu passava por ela, e ela por mim. Sentidos opostos. Ela não parou por mim. Ela continuou seu caminho, e eu atrapalhado, demorei-me alguns segundos, ainda no meio da pista, olhando-a seguir sem virar. Sem saber, continuei meu caminho original, ainda olhando para trás.

Final 1: Olhei mais uma, duas vezes. E vi-a perder-se em meio a multidão, diminuindo-se à distância. Segui meu caminho. Pensei várias vezes sobre como teria sido diferente se eu tivesse pegado sua mão e falado que queria conversar com ela. Ou qualquer coisa que pudesse me demorar com ela mais um pouco. Mas não. Refleti muito, a saudade dela infiltrando minhas veias, e tomando minha razão. Mas sabe? Acho que tinha que ser assim. Quem precisa dela em tempo integral? Acabaria caindo nos casos que eu mesmo citei e reprovei. Fiz certo. Senti seu perfume, deleitei-me com sua lembrança, com os bons momentos com ela, aprendi e segui em frente.

Decerto outras vezes encontraria ela no meu caminho. O importante afinal era isso. Continuar seguindo o caminho. Vez ou outra encontramos a felicidade por onde andamos.

Final 2: Ela passou e não parou. Nem ao menos olhou para trás. Aquilo praticamente me matou. Terminei a travessia, apenas para ter algum tempo em branco. Pensando um pouco. Deixando o coração desacelerar, o ardor dos olhos se esvair. Respirei fundo. O peito apertado, algo contraindo-o para dentro. Foi nessa hora que senti o calor em minha mão. Ouvi uma voz, dela, soando somente em minha mente: “Anda comigo?”. A mão dela não estava lá, nem a voz dela. Mas ela me convidava a andar com ela. Embora não estivesse. Nada estava na verdade. Na minha frente havia um caminho, e ao redor nada. Nada mesmo. Eu sentia o calor da mão dela na minha, como que a presença dela ao meu lado, enquanto eu caminhava rumo ao horizonte. Eu sabia que ela estava lá, adiante. Inalcançável. E ainda assim, segurava minha mão imaginariamente. Acho que depois de caminhar por alguns milhares de quilômetros que me dei conta. Não era ter a felicidade ao meu lado que era importante. Era caminhar rumo a ela sentindo que no meu caminho, ela estava ao meu lado, fazendo parte do mesmo. Mesmo sem estar.

Final 3: Olhei para trás, vi a felicidade passando por mim e pensei: Quem seria eu, se não você quem lê? Por que deveria eu imbuir-me a responsabilidade de saber como agir diante de um reencontro com a felicidade, quando eu sou apenas uma figura imaginária criada para preencher uma lacuna que não cabe a mim, mas a você mesmo? Dou meus olhos e minha razão para que sejam seus, e pergunto a mim(a ti): O que eu faço agora?

Texto carinhosamente cedido pelo meu amigo Alan Alves que mesmo não se sentindo confortável com o tema, não recusou o meu pedido.

Alan, muito obrigada por sua amizade. :)