sábado, 7 de julho de 2007

ONTEM AO LUAR

Ontem, ao luar, nós dois em plena solidão
Tu e perguntaste o que era a dor de uma paixão

Nada respondi! Calma assim fiquei!
Mas, fitando o azul, do azul do céu
A lua azul eu te mostrei
Mostrando-a a ti, dos olhos meus correr senti
Uma nívea lágrima e, assim, te respondi:
Fiquei a sorrir, por ter o prazer
De ver a lágrima nos olhos a sofrer
A dor do paixão não tem explicação
Como definir o que só sei sentir
É mister sofrer, para se saber
O que no peito o coração não quer dizer
Pergunta ao luar, travesso e tão taful
De noite a chorar na onda toda azul
Pergunta ao luar, do mar à canção
Qual o mistério que há na dor de uma paixão
Se tu desejas saber o que é o amor

Sentir o seu calor

O amarríssimo travor do seu dulçor

Sobe um monte a beira-mar, ao luar
Ouve a onda sobre a areia a lacrimar

Ouve a silêncio a falar da solidão

De um calado coração, a penar

A derramar, os prantos seus!

Ouve o choro perenal, a dor silente, universal

E a dor maior que é a dor de Deus

Se tu queres mais saber a fonte dos meus ais,

Põe o ouvido aqui na rósea flor do coração
Ouve a inquietação da merencória pulsação.
Busca saber qual a razão

Por que ele vive, assim, tão triste a suspirar.

A palpitar em desesperação

A teimar, de amar um insensível coração

Que a ninguém dirá no peito, ingrato em que ele está

Mas que ao sepulcro, fatalmente, o levará.

Catulo da Paixão Caearense / Pedro Alcântara